O mundo não tem lei mesmo. Você faz e desfaz as páginas da
sua história sem se preocupar com os personagens que criou. Personagens? É... e acho que eles ganharam vida depois que você escreveu algumas linhas
românticas. Andei assumindo a posição de mocinha do seu livro. Mas você se enjoou
da história e arrancou as páginas.
Simplesmente resolveu escrever mais um livro e não se
preocupou com o desfecho do outro. Talvez a mocinha estivesse esperando um
final feliz, ou algumas páginas a mais: três parágrafos são poucos para uma
história concreta. Talvez até uma morte era mais aceitável. Mas você parou a
história no meio, amassou o papel e desenhou outra mocinha.
É... E mundo não tem
lei mesmo. Você continua suas linhas, descrevendo suas amantes com o mesmo
sorriso que o meu. Pergunto se algum leitor desavisado o alertou que o corte
de cabelo delas também eram recortes de outra personagem.
Só ainda não entendi a sua mania de me amassar para poder
desenhar outra parecida. Porque igual é impossível. Nem Da Vinci conseguiria reproduzir
fielmente sua Monalisa. Quem dirá você, que não finaliza suas histórias nem
sabe se desenhar no próprio papel.
Já reparei que sua biografia é um tanto turva e você não
sabe muito bem o que escrever. Você desenha seus amores com traços finos e
perfeitos, mas inventa alguns defeitos só para ter a sensação de amassar alguma coisa que não é boa o bastante para permanecer na história. Quando vai se desenhar, não sabe se definir, nem por fora, nem por dentro. Então você inventa um príncipe em um cavalo branco, cheio de amor pra dar. Mas, no final das contas, o cara perfeito que você finge ser, é na verdade a capa do romance. O mocinho mesmo, está em alguma outra história, que não é a sua. Você é só um cara que caiu de gaiato e não sabe onde está.
Eita mundinho sem regras, sem consequências. Pobre de nós
que tentamos escrever ao menos um Gibi, sem saber que costumam jogar fora
quando aparece uma nova edição.
E nesta de ficar escrevendo, desenhando e amassando, você
nem percebeu que a sua personagem no lixo roubou seu lápis.
Acho que a mocinha virou vilã, depois que ela mesma conseguiu
sair do papel amassado e descobriu que ficou com marcas. A mocinha, nem tão
boazinha mais, nem tão sonhadora mais, abdicou do sorriso que era seu e o
deixou para as outras amantes. Agora ela vai rir e muito depois que o seu
estoque de papel acabar e você não tiver mais nenhuma história pra reciclar.