"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Perquisições do Âmago

E de repente, em um dia desses, bem comum, você se pega avaliando todos os passos que já deu até hoje. Todos os tropeços. Todas as vezes que se ajoelhou e se esfolou. Começa a pensar em cada uma das pessoas que passaram pela sua vida e que já não estão mais. Cada adeus que deixou de dar e cada sorriso distante que ainda oferece. Cada pessoa que foi embora carregando segredos profundos e que, hoje, não se sabe por onde as palavras andam: se jogadas nas esquinas ou trancadas em algum baú esquecido. Pensa se alguma delas ainda se lembra. Se tem raiva ou indiferença. Começa a pensar em cada erro que cometeu, em cada atitude carregada de emoção que transpareceu. Em todas as pessoas que já magoou e naquelas que não perdoou. Começa a avaliar suas atitudes mais sublimes e suas atitudes mais levianas. Em todas as vezes que foi implacável em demasia e quando foi condescendente sem necessidade. Todos os risos e lágrimas. Começa a reviver os outros caminhos que poderia ter seguido e em quem poderia ter se tornado. Se corrói ou se consola. Começa a perceber que está agindo errado, mas mesmo assim o faz. Tenta fazer o certo, mas por vezes fica inerte. Tem medo de falhar e tem medo de ganhar. Você começa a colocar sua vida, tão derradeira, em cima de balanças desreguladas, tentando um ponto de equilíbrio entre o conhecimento e maturidade e a ignorância e puerilidade. Se sente vil por não evitar os erros. Se sente digna de tudo que aprendeu. Não sabe avaliar se está na estrada certa ou se perdeu em encruzilhadas. Tem desânimo para continuar, mas é impelida a força pela necessidade de respirar que a vida impõe. E segue, pensando, sabendo que quer chegar em algum lugar, mas não sabe se foi o caminho que escolheu.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Dúvidas Irônicas

A ironia de tudo isso é que às vezes parece que a saudade passa. Achei que as lembranças haviam desfalecido de uma forma tão profunda, que nem um ouvir do seu nome iria acordar. Passei muito tempo achando que estava feliz por ter te esquecido. Calei-me de vez e nunca mais citei nenhuma lembrança nossa, nem alegre nem triste. Ninguém nunca mais me viu lembrar de você. Raras vezes  me peguei falando displicentemente  de algum caso por aí, porque não é possível eu te excluir do meu passado. Eu não posso dizer que isso é saudade, nem orgulho ferido, nem amor. Eu, até hoje, não sei o que é isso que sinto. Você mexeu comigo, só isso que posso dizer. Sei que inquietou meus monstros internos. Cutucou minha comodidade emocional. Não importa se você é um idiota ou um partidão. Se o seu sarcasmo é saudável ou doentio. A questão é que, de alguma forma, você se imortalizou no meu peito. Você dorme e acorda do nada e quando quer. Enferrujei minhas linhas justamente para apaga-lo de vez até do que mais gosto de fazer: escrever. Escrever sobre amor. E eu só escrevia sobre você. Você tomou conta até das minhas folhas em branco. Uma incógnita sentimental é o que você se tornou. Creio que eu nunca saberei o que foi o nosso caso, porque nunca tivemos a chance (ou a desperdiçamos) de viver o que de fato sentíamos. Foi medo de arriscar? Preguiça de abrir mão? Arrogância? A ironia disso tudo é que dúvida é o único sentimento que posso usar para descrever uma coisa que eu nunca duvidei que sentia.

De 2014, só para não perder as palavras por aí...