"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Trato



Combinamos que não íamos nos ver. Tornamos a apertar nossos botões de desliga amor. E ai você novamente se veste com suas roupas de indiferença e continua sua vida como se eu nunca tivesse existido.
Não existimos. De repente não existiu aquele dia em que andamos um ao lado do outro e nossas mãos se esbarraram, e nós fingimos que foi por acaso. Não existiu o dia em que você roubou minha presilha porque queria algo que te lembrasse o cheiro dos meus cabelos.
Nem quando você escondeu meu anel no seu bolso, afim de segurar algo que lembrasse meu toque, só pra saber se eu iria ficar mais um pouquinho do seu lado. Não existiu o dia em que, relutante, eu entrelacei meus dedos na sua mão, e você ficou rindo do meu receio de que um dia essas coisas não iriam existir mais.
Não.
Combinamos que nada disso existiu. Imagine! Foi só um caso, uma insanidade, um movimento impulsivo. Não houve retorno, nem procura. Foi uma historia como qualquer outra. Não sentimos saudades um do outro, só uma vontade passageira de lembrar como que era estarmos juntos.
Combinamos que você nunca me achou engraçada nem que eu morro de rir das suas manias. Nem que eu escrevi seu nome no Box embaçado dentro de um coração.
Estamos bem e felizes. Nós não andamos para trás, não vivemos passado, porque isso é atraso de vida. Sequer retardamos nossos passos porque isso nos faz cruzar de novo. E nós nem gostamos disso. Você jogou todos os meus presentes fora porque eu mandei, e você quis acreditar no que eu disse. É mais fácil ter um motivo para não existir.
Combinamos, no silêncio, que não existimos mais. Eu combinei que não ia me importar com sua inexistência. Você combinou que existem outras que me farão não existir para você.
Combinamos que vamos nos esbarrar pela rua como desconhecidos. Vamos continuar nos encostando pelo tempo, pelas memórias, sem um existir para o outro.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Silêncio de resignação

É... pouco a pouco as lembranças vão sendo destruídas, aniquiladas, sem prévio aviso. Aos poucos e de forma impetuosa, aquilo que nos era único, não é mais. Por algum motivo secreto e indecifrável eu precisava que tivéssemos algo só nosso, algo tão único que grudasse nossos corações para sempre, mesmo que longe. Mas o que era pra ser, não está sendo mais. Eu vejo tudo que sonhei um dia ser inumeras vezes pisoteado. Eu observo isso, inerte, porque eu não posso e nem devo fazer nada. Preciso deixar morrer. Preciso que a saudade, a fome, as lembranças vão embora. Preciso deixá-las ir. Mas é tão ruim. Ruim se desfazer daquilo que amamos, sem despedidas. Preciso resgatar aquilo que perdi porque dei. Preciso ir até o lixo e pegar de volta algo tão bom, tão limpo, tão simples, tão único e limpá-lo de novo. E guardar. Sinto uma dor calada neste momento. Sem lágrimas, sem queixas, uma dor acostumada. Uma dor acomodada. Uma dor que eu já previa que ia acontecer, mas mesmo assim ainda arde. Bem menos. Mas arde. Talvez não tão menos quanto deveria, ou quanto eu queria. Sinto uma saudade imensa, não de você, mas do que eu era antes disso tudo.