"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

domingo, 27 de novembro de 2011

Do lado de dentro

Mais uma vez o meu poder de demonstrar o que não sinto está ativado.
Mais uma vez estou aqui, quietinha, no meu canto inaudível. Tentando mudar o mundo com palavras escritas a mão. Tentando dizer por poemas o que eu não quero dizer. Brigando comigo mesma. Meu ébrio coração abre janelas e a razão fecha as cortinas. Duas pessoas brigam... Uma sonha e a outra sarcasticamente ri. Uma pede, a outra tira. Solitariamente, discuto comigo mesma sobre as coisas que não devo acreditar. Enquanto, aguardo, esperançosa, que alguém me decifre, que alguém em algum lugar, saiba ler o que eu nem sequer escrevo. Alguém que saiba ler silêncios. Onde estará a resposta? O que será que devo fazer? Bem aqui no meu cantinho friamente quente, deliberadamente escolhido, faço de conta que sou feliz com minha razão. Confusamente discordo com algumas malditas lembranças. Mas aquela sarcástica ri. E sabe onde está o meu erro e o meu defeito. Dos perfumes inodoros. Das promessas vis. Das intenções desleais. Da saudade irresoluta. Do arrependimento inerte. E ali, timidamente, meu tolo coração tenta reviver. Em um pequeno espaço, frente os gritos frenéticos da mente, ele murmura algumas tolas lembranças que a cabeça reprime em questão de minutos.  Naquele lugar tão apertado que vem vivendo, ele pede um sorriso. Pede, silenciosamente, que não se desista dele. Pede um ato que o faça sair dali. Enquanto, a maléfica mente, sarcasticamente ri, e frisa que nada vai acontecer. Enquanto diz que o tempo que se perde por ele é mensurável. Naquele pedaço, onde tenta respirar, ele bate levemente nas paredes, pedindo liberdade e um pouco de atenção, quando aparentemente parece que não quer. Enquanto, emudecido pelas palavras improprias, implora que não se acredite nelas. E a razão, bem acima dele, sarcasticamente diz que ninguém vai se importar o suficiente. Ninguém vai se empenhar o suficiente. Porque ela o conseguiu calar. Sinto medo, porque, de repente, o menor lugar que designei pro meu ingênuo coração, parece ser maior do que tudo isso. Entre os gritos da razão, entre o medo do que não vai acontecer, entre as vontades infundadas do coração e a realidade inquestionável, uma guerra, toda aqui dentro de mim, se instala.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O  problema começa quando vc quer dividir. Dividir as horas à toa, os planos, os sonhos, as brincadeiras. Dividir as tristezas, as alegrias, qualquer merreca, qualquer bobagem. A Dividir... a si mesmo. Dividir o riso, o sorriso, o abraço, as cócegas, os suaves beliscões .Dividir a saudade.E até o pensamento.Dividir o que não quer, a ser obrigada a dividir. O problema é justamente esse, quando dividir o dinheiro, o sexo ou as baladas já são muito pouco, vc quer dividir o banal, o que vc é quando acorda, dividir sua TPM, seu mal humor, suas piadas sem fundamento, a música desafinada. Dividir a pipoca do cinema,a conta do barzinho, os amigos. Dividir a fofoca inútil que ficou sabendo. A novidade mais singela, os acontecimentos familiares bizarros. Dividir o tédio, o silêncio e o medo. Dividir o cachorro quente da esquina, a chuva, os desenhos de nuvens, as mãos dadas. Dividir as lágrimas, os problemas , as manias, o vazio. Dividir os defeitos, os erros, as brigas, o não. O problema começa quando quer dividir até a solidão.