Tenho medo de não voltar. Tenho medo de não conseguir mais escrever. Tenho medo da solidão e das renúncias. O não saber o que vai acontecer me perturba. Tenho tanto medo de perder o que consegui e quem conquistei justamente por não poder tê-los escolhido.
Não aprendi a querer o que tinha, portanto não sei se vou ter o que quero. Tenho medo da derrota. Pois conseguir nem sempre significa vencer. Escolhi a distância, mas não gosto dela. Gosto da independência, mas o preço foi a saudade e a perda.
E por mais que existam as juras de saudade eterna, o utópico e sonhado espaço que com grande labuta conseguimos conquistar no coração do outro, vai ser preenchido. Não por outra pessoa, mas pelo nada mesmo, que é posterior ao que chamamos saudade.
Inevitavelmente a importância que temos na vida de quem amamos é estruturada pela presença. E, em algum lugar no tempo, nós temos que abdicar dela. Abdicar de nossos amores, de nossas amizades, de nossa família em favor de nossos sonhos, dos desejos profundos e caros da nossa alma. Um dia temos que voar. Um dia temos que abrir nossas asas e enchê-las de vento e de tempo. Um dia saímos do ninho quente. Arrancamos nossas raízes. E como dói arrancar raízes! Como dói saber que, a partir do instante de conscientização da nossas escolhas, nós perdemos coisas raras, em troca do que aparentemente seria o nada. Trocamos o seio da família, a presença dos amigos por simples solidão. Solidão que vale um sonho. Um sonho que inexplicavelmente não sabemos direito qual é.
A vontade inerente do ser humano em conhecer novas coisas, novos lugares, novas pessoas ruge dentro do peito. Ele sonha com a diversidade, e quando se vê perto de conhecer a tão sonhada liberdade, o receio percorre como que silenciosamente, cada centímetro de cada músculo. Aquele lugar que podia voltar quando tivesse medo e dormir, já não existe mais. A responsabilidade chama.
Dei-me conta de que sou adulta. Responsável por mim mesma, pelas minhas escolhas e por minhas ações. E isso também dói. E o próprio sonho dói.

E é disso que tenho medo: justamente de não conseguir voltar...