"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Entre mim e além de mim

As vezes me pego pensando sobre o final. O ponto. O silêncio. O Nada.
Já nascemos sabendo que vamos morrer. Que imprevisivelmente, inconstantemente, impreterivelmente vamos morrer. De uma artéria entupida. De um atropelamento. Ou de velhice mesmo. Confusamente, contraditoriamente, vamos morrer, um dia...
E então, nesse vazio, nessa noite tão cheia de ruidos silenciosos, me encontro pensando no fim... Ou na continuidade... No ponto ou nas reticencias...
Questiono qual a função da minha vida, se ela é um fim em si mesma, ou se ela não cabe em si. Afinal, qual o motivo de nascermos se vamos morrer?
Nascer, plantar uma árvore, e morrer... e Pronto?
Para que plantar uma árvore, se quando eu morrer um desconhecido vai arrancá-la e fazer cadeiras. Se pelo menos a arvore levasse meu nome, tipo “Pinheiro”. Interessante ficaria “Lopes, uma das árvores mais antigas do país”. Seria uma forma de perpetuação, assim teria algum sentido viver, pois a morte não seria tão vazia, tão solitária, tão finitude.
Imagino quando eu morrer, que algumas pessoas me velarão com expressões doloridas, outras tantas chorarão e mais umas tantas declararão um discurso de como fui uma ótima pessoa enquanto vivi (mesmo que em vida tivesse cometido algumas atrocidades).
E então, jogarão a terra sobre meus olhos cerrados, e por umas dezenas de anos irei sendo lembrada, cada vez mais languidas as lembranças, até que só se recordarão quando abrirem aquele velho álbum cheio de poeira e alguém reconhecer meu velho rosto roído. E assim, até que a ultima pessoa que se lembrar de mim, desaparecer também com o tempo... E assim com todos nós.
E mais uma vez me pergunto qual o motivo dessa nossa efêmera vida terrena, e eterna vida subterrânea. Os otimistas dirão que a vida é o motivo em si mesma, e que estamos aqui para viver.
Considero isso um tanto vago...um tanto vazio e sem propósito. Virar pó é aterrorizante de mais. Vida após a morte, incerto de mais. Uma das duas há de ser verdade, e creio eu que a segunda me parece mais agradável, destacando aqui que somente se for pra nascer em outro planeta, porque neste, definitivamente, daqui umas centenas de anos, não estou animada a morrer de sede, prefiro morrer de atropelamento, é mais promissor. Pelo menos posso imaginar que ainda vai existir mundo para meus antecedentes.
Enquanto penso, ouço as pessoas passarem nas ruas, rirem e se divertirem. E sem perceber, considerarem a vida auspiciosa. Digna de ser vivida. E ao mesmo tempo promissora.
Sei que não vou chegar a ponto algum tentando desvendar a vida (ou morte) a pós a morte. Sendo que ainda estou vivendo a vida. Será possivel viver a morte? Mas enquanto não encontro um caminho para minhas dúvidas, vou vivendo o momento da vida que vivo ( com bastante pleonasmo), sem querer chegar a um lugar que ainda não faz parte da minha vida. Viver faz parte da morte, e morrer faz parte da vida. Viver em si mesmo é utopia filosófica. Viver é mais do que só viver, é também morrer. Aquela mesma morte que dá vida as coisas, que deixa a semente, a fênix da nossa caminhada.
Se você for pra marte, para o pó ou voltar pra cá, e quer ser pra sempre. Sinto muito, é ilusório de mais. O que nos resta então é nos perpetuarmos em vida. Virar mártir não vai fazer de você lembrado pra sempre. Apenas viva para ser infinito para você mesmo, e não pense em ser eterno depois da morte, porque depois dela, a gente não sabe como é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário