"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Tenho medo de não voltar. Tenho medo de não conseguir mais escrever. Tenho medo da solidão e das renúncias. O não saber o que vai acontecer me perturba. Tenho tanto medo de perder o que consegui e quem conquistei justamente por não poder tê-los escolhido.
Não aprendi a querer o que tinha, portanto não sei se vou ter o que quero. Tenho medo da derrota. Pois conseguir nem sempre significa vencer. Escolhi a distância, mas não gosto dela. Gosto da independência, mas o preço foi a saudade e a perda.
E por mais que existam as juras de saudade eterna, o utópico e sonhado espaço que com grande labuta conseguimos conquistar no coração do outro, vai ser preenchido. Não por outra pessoa, mas pelo nada mesmo, que é posterior ao que chamamos saudade.
Inevitavelmente a importância que temos na vida de quem amamos é estruturada pela presença. E, em algum lugar no tempo, nós temos que abdicar dela. Abdicar de nossos amores, de nossas amizades, de nossa família em favor de nossos sonhos, dos desejos profundos e caros da nossa alma. Um dia temos que voar. Um dia temos que abrir nossas asas e enchê-las de vento e de tempo. Um dia saímos do ninho quente. Arrancamos nossas raízes. E como dói arrancar raízes! Como dói saber que, a partir do instante de conscientização da nossas escolhas, nós perdemos coisas raras, em troca do que aparentemente seria o nada. Trocamos o seio da família, a presença dos amigos por simples solidão. Solidão que vale um sonho. Um sonho que inexplicavelmente não sabemos direito qual é.
A vontade inerente do ser humano em conhecer novas coisas, novos lugares, novas pessoas ruge dentro do peito. Ele sonha com a diversidade, e quando se vê perto de conhecer a tão sonhada liberdade, o receio percorre como que silenciosamente, cada centímetro de cada músculo. Aquele lugar que podia voltar quando tivesse medo e dormir, já não existe mais. A responsabilidade chama.
Dei-me conta de que sou adulta. Responsável por mim mesma, pelas minhas escolhas e por minhas ações. E isso também dói. E o próprio sonho dói.
A vida podia ser como nos sonhos, em que fazemos dela o que quisermos. Eu não sentiria culpa por ter fracassado e nem medo da possibilidade de não respaldar a escolha que fiz. Eu não sentiria isso que sinto agora, essa distância invencível, esse silêncio que chega a gritar nos ouvidos e essas amarras, que não me deixam com a mesma liberdade que tinha quando eu não era livre. Até a liberdade é relativa. Não posso abraçar quem eu quero, mas posso sair sem pedir para ninguém. E isso não me faz livre, não mais livre de mim mesma. Continuo, talvez até mais agora, escrava do que sou e do que não quero ser. Escrava de minhas escolhas, de minhas renúncias, de meus medos e de minha própria cobrança. Escrava da saudade e do que eu não quis perder. Escrava justamente da liberdade dos meus sonhos que custou a minha realidade.
E é disso que tenho medo: justamente de não conseguir voltar...


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