"Sexo verbal não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus... Não quero lembrar que eu erro também."
Renato Russo
"As palavras surgiram num sonho e eu as escrevi quando acordei, sem saber ao certo o que significavam ou a quem se aplicavam"
Neil Gaiman

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Decorações de Natal



Época de Natal. Tempo em que saímos às ruas e vemos as lojas decoradas com luzes, azevinhos, meias e todos aqueles peculiares símbolos natalinos. Guirlandas na porta das casas. Árvores de natal carregadas de bolotas coloridas de diversos tamanhos, e auspiciosos presentes aos pés dos verdes pinheiros nas salas de jantar.
E de repente, frases promissoras, de congratulações, fraternidade e mais um monte de parabenizações que não usamos casualmente durante os outros 11 meses do ano.
E então, compram-se presentes, recebem-se abraços, comem-se perus nas ceias. As famílias se (re)unem, falam dos filhos, do emprego e dos planos para o próximo ano.
E... Abrem-se os presentes. E todos vão para suas casas. E dormem.
Natal.
E assim, logo depois de uma longa semana de festejos, comemorações e fogos de artifício. No segundo dia do ano, as pessoas voltam à suas vidas rotineiras. E esperam monotonamente por mais 11 meses para abraçarem, comerem juntos no jantar, trocar presentes e falar da vida.
E seguem assim, na hipocrisia natalina. Decorando suas casas como se fossem felizes e lembrassem de si mesmos o ano todo. E sorriem.
Eu me pergunto: Sorriem do que?
Na verdade, talvez o Natal seja para nos lembramos do quanto estamos sozinhos e vazios, e, ilusoriamente, enchemos nossas casas, nossas vidas, nossas cidades com decorações que nada mais são o que nos falta por dentro, durante os 11 meses do ano.
Talvez quando chega o natal, não queremos comer um peru (ao menos porque achamos “bonitinha” a musica da Sadia), mas queiramos comer 11 meses de solidão. Talvez passamos tanto tempo com pessoas desconhecidas que precisamos arrumar uma festa, com um punhado de adereços e distrações porque não sabemos mais nos comportar diante das pessoas com quem vivemos a vida inteira.
Talvez seu natal seja uma chatice. Talvez seja o dia afinal, mais vazio do ano, porque você olha para as luzes coloridas e não sabe por que elas são assim, tão coloridas.
Talvez porque você não consiga uma explicação plausível do motivo de se assar uma galinha por horas, comê-la e ir embora, depois de rir um pouco com pessoas que você deveria rir durante os outros 11 meses do ano. Mas não ri.
Quem sabe você, afinal, queria estar ao lado de outras pessoas no natal. Mas tem que ficar com aquelas mesmas de sempre, porque quem você queria estar durante a ceia, teve inexoravelmente que passar o natal com os de sempre.
Talvez o natal seja chato mesmo. Porque ninguém mudou durante o ano. Você continua brigado com aquela pessoa que queria dar um presente. Ou um abraço.
E enquanto pensa nisso,  você observa o pobre menino Jesus, novamente em sua manjedoura, em volta de animais. Seguindo a decoração “religiosamente” no 12º mês do ano. E ali está o natal. O aniversario de um garoto que carrega a responsabilidade de unir famílias (que não são as suas próprias) no aniversário dele mesmo. Aniversário este que, na realidade, nem sabe se é, levando em conta que o calendário na época era diferente. E sendo assim, todo mundo fala das benções de Deus, e do presente que vai pedir para o aniversariante dar no próximo ano. Mas não pedem nada a si mesmos, não responsabilizam a si mesmos, e se esquecem de que isso deveria ir além de decorações e expectativas.
Eu me pergunto se o menino Jesus comemora o natal, ou se ele simplesmente dorme em sua quentinha cama improvisada.
Quem sabe os animais ali ao lado do menino-Deus, comemorem o natal durante os 11 meses do ano ( pois no décimo segundo mês, são as pessoas que os comemoram  na mesa de jantar)
E, então, mais uma vez, olhando as decorações natalinas, o Presépio, os presentes, a ceia. Continuo me perguntando por que não fazemos ceias casualmente em abril, trocamos presentes em junho, abraçamos e rimos da vida com as pessoas que amamos em qualquer dia  de qualquer mês. E não deixamos o menino Jesus dormir quentinho, eternamente em sua manjedoura, durante os 365 dias do ano.

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